Em 08 de junho de 793, não muitos vikings, provavelmente, menos
de sessenta, saltaram de seus drakkar’s (navios-dragão) para saquear o templo
costeiro de Lindisfarne. A população da ilha se resumia a pastores,
agricultores e religiosos e seus objetos de valor, basicamente, referentes aos
ritos religiosos.
Lindisfarne abrigava um dos mais sagrados templos da Bretanha e
a paz reinava no local. Embora invasões pudessem ocorrer, era pouco provável
que se precipitasse sobre a remota ilha. Somente maior que a suposta segurança,
era a de que nenhum invasor profanaria o templo religioso nem seus sacerdotes.
Entretanto, nenhum axioma cristão seria válido, ou mesmo significativo, para os
distintos invasores daquele 8 de junho.
Diferentemente
dos cristãos, o “Paraíso” Viking só poderia ser conquistado (e não “reconhecido”)
através de atos de coragem: essencialmente, seu “santuário” seria o campo de
batalha e suas preces o recíproco sangue jorrado – somente a pura bravura
abriria as portas do Valhalla (“Salão dos Mortos”), cuja destinação
final seria marchar ao lado dos Deuses contra os gigantes no apocalítico Ragnarök (o apocalipse Viking).
A repentina devastação realizada em Lindisfarne prenunciou o
terror que aplacaria a Europa abordo dos domados e longos “dragões” vikings (os
drakkar’s). Embora já fosse registrado algum contato, pouco se sabia a respeito
daqueles que foram comparados às feras. Os invasores assassinaram, saquearam e
desapareceram com a mesma velocidade que surgiram, de modo que não se tem
registro detalhado do ocorrido. Segundo fonte, depois do transcorrido, teriam
dito que, na verdade, tratava-se de um castigo de Deus gerado pela fornicação
(adultério e incesto) e ganância.
Alcuíno, um estudioso anglo-saxão da corte do grande rei Carlos
Magno, teria escrito:
Com quase 350 anos em que vivemos nesta terra linda,
nunca tal terror como o de agora apareceu na Bretanha, que sofre com uma raça
pagã. Nem pensado que tal incursão do mar poderia ser feita. Eis a igreja de
St. Cuthbert, salpicada com o sangue dos sacerdotes de Deus, despojados de
todos os seus ornamentos. Os pagãos derramaram o sangue dos santos ao redor do
altar. Pisaram sobre os corpos no templo de Deus como esterco nas ruas.”
Sem influência/contato greco-romano, os nórdicos (“homens do
norte”) não possuíam respeito ao direito ou à vida nas cidades, menos ainda
pela crença em um deus cristão. Entre os séculos VIII e XI, o tsunami nórdico
solapou a Europa com saques e batalhas selvagens. Com uma cultura singular, os
Vikings (noruegueses, suecos e dinamarqueses) mostraram a frágil estabilidade
europeia e que o feudalismo não foi uniforme.
A odisseia nórdica durou, oficialmente, até o ano de 1066. Neste
mesmo período também foi selado o fim da dinastia anglo-saxônica na Inglaterra:
em 1066, Harald Hardrada, rei viking da Noruega, foi morto na batalha de
Stamford Bridge lutando contra o recém-empossado Haroldo II (rei da
“Inglaterra”). Três semanas após Stamford Bridge, foi a vez de Haroldo II
encontrar a morte: tentando defender o “surrupiado” trono inglês na batalha de
Hastings, foi morto pelas tropas de Guilherme, o Conquistador. Guilherme e seus
soldados (normandos), embora convertidos ao Cristianismo, eram descendentes de
Vikings que colonizaram a Normandia (França).
Apesar da má-fama gerada pela ferocidade dos seus ataques, os
Vikings foram extremamente significativos para o mundo, sobretudo para Europa.
Constituíram uma civilização singular, sofisticada e complexa, que gravou
profundas marcas no Ocidente: descobriram a Islândia, Groenlândia e América
(esta, 500 anos antes de Colombo) e criaram longínquas rotas de comércio (norte
da África, Arábia e China).
Foram
mestres na forja e indústria naval, tendo se aventurado por rios, mares e pelo
Oceano Atlântico. Em Constantinopla, constituíram a Guarda Varegue do imperador
bizantino e deram o melhor exemplo de força mercenária à época. Para a guerra,
forneceram, possivelmente, o mais feroz e intrigante guerreiro que o mundo já
viu: o temido berserker.
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